sexta-feira, 10 de julho de 2015

O que é ser humilde?
 
Vivemos em um tempo de grande promiscuidade semântica. O que é ser humilde? "Humildade significa terra fértil, vem da palavra húmus que significa : solo sobre nós. É a qualidade das pessoas que procuram se manter no nível dos outros, ninguém é pior ou melhor do que os outros, todos estamos no mesmo nível de dignidade, de cordialidade, respeito, simplicidade e honestidade
Humildade é assumir seus direitos e obrigações, erros e culpas sem resistir. Agir diferente disto é uma arrogância e uma negação da sua origem. A humildade é uma virtude humilde, porque quem se vangloria da sua, na realidade pode ter falta dela. É um sentimento adquirido lentamente pelo trabalho interior ou provocado pelo conhecimento de que existe um ser superior ao mesmo.
A humildade é um sentimento de extrema importância, porque faz a pessoa reconhecer suas próprias limitações, ter modéstia e ausência de orgulho. A humildade É uma tema constante na Bíblia Sagrada, onde diz-se que "quem se humilha será exaltado, e quem se exalta será humilhado”." (significados.com.br)

Entretanto, não se colocar acima dos outros não significa se colocar abaixo dos outros, abaixo da dignidade que todo o ser humano tem. Ser humilde não é "ter sangue de barata" nem ser um "invertebrado". Isto vai além da condição de humildade e passa à condição de humilhação. Esta sim é indigna e  desprovida de qualquer bem em si mesma.

Ora, se é sob a condição de humilhação que muitas vezes a humildade do humilhado se sobressai, isto não confere ao ato de humilhar nenhuma dignidade. Jesus foi humilde ao tomar sobre si um castigo que não era seu, mas este foi um ato de auto-humilhação em função de sua Missão. Em diversas passagens dos Evangelhos Jesus recusou acusações feitas contra ele quando elas eram injustas.
Esperar que uma pessoa humilhada permaneça passivamente calada é desvincular a virtude da humildade das outras virtudes humanas (não só cristãs mas como de todas as religiões) como a verdade, o bem e a justiça; pois não há amor sem fidelidade e muito menos paz sem justiça. (Salmo 85.10).

Portanto, ser humilde não é não se defender (Paulo se defendeu das acusações feitas injustamente contra ele. A sua 2ª epístola trata basicamente sobre isto); ser humilde não é se calar diante de uma acusação injusta, assim como o Senhor Jesus não se calava: "Então alguns fariseus e mestres da lei, vindos de Jerusalém, foram a Jesus e perguntaram: "Por que os seus discípulos transgridem a tradição dos líderes religiosos? Pois não lavam as mãos antes de comer! " Respondeu Jesus: "E por que vocês transgridem o mandamento de Deus por causa da tradição de vocês? (Mt 15.1-3). Jesus estava sendo soberbo? Não. Ao contrário, ele estava humildemente denunciando a soberba dos fariseus que não discerniam seu próprio pecado e ainda se achavam superiores aos outros. A prova disto está em seu discurso à multidão sobre a hierarquia espiritual do Reino de Deus que ele anunciava:
"Os mestres da lei e os fariseus se assentam na cadeira de Moisés. Obedeçam-lhes e façam tudo o que eles lhes dizem. Mas não façam o que eles fazem, pois não praticam o que pregam. Eles atam fardos pesados e os colocam sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos não estão dispostos a levantar um só dedo para movê-los. "Tudo o que fazem é para serem vistos pelos homens. Eles fazem seus filactérios bem largos e as franjas de suas vestes bem longas; gostam do lugar de honra nos banquetes e dos assentos mais importantes nas sinagogas, de serem saudados nas praças e de serem chamados ‘rabis’. "Mas vocês não devem ser chamados ‘rabis’; um só é o mestre de vocês, e todos vocês são irmãos. A ninguém na terra chamem ‘pai’, porque vocês só têm um Pai, aquele que está nos céus.
Mateus 23:2-9. Ao afirmar "A ninguém na terra chamem de 'pai' ", ele estava se colocando em condição de igualdade, irmanado à comunidade humana. E foi exatamente por se colocar em pé de igualdade é que ele denunciava as injustiças e a falta de humildade dos religiosos de seu tempo.

É  preciso ter cuidado com o senso comum, com a opinião geral e irrefletida. Devemos compreender o sentido próprio dos termos. Uma má compreensão de um termo gerará uma práxis indesejada. Reclamar de uma injustiça, seja ela feita contra o  outro ou até contra si mesmo não é falta de humildade, desde que aquele que o faz esteja requerendo não mais do que sua devida dignidade. Falta de humildade é se achar superior, acima de qualquer julgamento, acima do bem e do mal. Podemos ser humildes e abrir as nossas bocas contra toda a sorte de injustiça.
 

domingo, 1 de fevereiro de 2015

ANTINOMIA: UM CONCEITO FUNDAMENTAL NA REFLEXÃO TEOLÓGICA

Você sabe o que é uma antinomia?
Antinomia é um conceito de origem filosófica e designa, por exemplo, em Kant, "a presença de duas afirmações contraditórias, possuindo uma e outra legitimidade e fundamento sólido, portanto duas afirmações contraditórias a que não se pode aplicar o princípio do terceiro excluído". ¹

A antinomia é uma forma de paradoxo e muitas vezes ambas as palavras são usadas como sinônimos. Entretanto, há os que consideram as antinomias como uma classe especial de paradoxos: os resultantes de uma contradição entre duas proposições, em que cada uma delas é racionalmente defensável.² Antinomia designa, num sentido mais restrito, um conflito entre duas leis. Fala-se entre antinomia entre fé e razão, ética e política, idealismo e pragmatismo.

 
 Entretanto, duas proposições podem ser contrárias sem que constituam, necessariamente, uma antinomia. Esta, no entanto, surge quando se pretende provar a validade de cada uma delas. Assim, "antinomia tornou-se um termo teológico central na Ortodoxia recente". ³ Embora não seja um termo corrente dos vocabulários teológico católico e protestante, tem-se feito cada vez mais presente nas reflexões dos teólogos contemporâneos.
 
 
Pretendo iniciar em meu blog uma série de reflexões sobre as antinomias da teologia cristã. Exemplo? A antinomia da unidade e da trindade divina; da liberdade humana e da predestinação divina; da lei mosaica e do Evangelho de Jesus Cristo; da salvação pela fé somente e da necessidade das obras.
 
 
Para um calvinista, tal compreensão é fundamental, principalmente no tocante à antinomia entre predestinação e livre arbítrio humano, a fim de que se evite os extremos: a excessiva ênfase na liberdade humana (afirmação legítima cuja defesa unilateral por Jacobus Arminius levou ao que ficou conhecido por "arminianismo") ou a aniquilação da mesma atribuindo-se a Deus as relações de causa e efeito em toda as esferas da vida humana; tanto na esfera individual como na esfera coletiva  - o assim chamado "hiper-calvinismo".
Quero convidar você a acompanhar e participar opinando, discutindo e ajudando a construir um conhecimento que seja relevante para nossos dias, para nossas vidas como cristãos do século XXI  no Brasil contemporâneo.
 
 
Espero por vocês!
 
 
Em Cristo,
 
 
Rev. Vinício Gomes.
1. Dicionário Crítico de Teologia. São Paulo: Edições: Paulinas e Loyola. P 146.
3. Dicionário Crítico de Teologia. P 147.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

POR UMA NOVA EVANGELIZAÇÃO

Nos anos 70 o então Papa Paulo VI promulgou uma encíclica na qual conclamava os católicos de todo o mundo a uma nova evangelização. Ele reconhecia que os católicos do mundo contemporâneo eram cristãos secularizados e apenas cristãos nominais que, portanto, precisavam ser reevangelizados.
No meio evangélico muito tem se falado em uma "Nova Reforma Protestante" e eu, durante algum tempo, também pensei assim. Entretanto, nos últimos anos cheguei à conclusão de que não precisamos de uma nova Reforma, precisamos de uma nova Evangelização.